domingo, 22 de março de 2009

A formação integrada: a escola e o trabalho como lugares de memória e de identidade


A memória do trabalho e da educação é um tema pouco explorado. Neste texto levanta-se algumas hipóteses possíveis para entender o fenômeno. A primeira, facilmente constatável nas escolas, é a quase ausência de registros históricos que não sejam os documentos relativos a matrícula, frequência, aproveitamento, aprovação, reprovação, conclusão de curso. Uma segunda possível explicação é o predomínio quase absoluto da cultura oral de seus principais protagonistas, os professores. A carência de tempo, de espaço, de recursos financeiros e humanos especializados para o trabalho de arquivo. Por último, a tradição colonizadora e autoritária da memória apagada, das gerações sem história. Mas as lutas políticas renascem sempre, porque são parte da cultura e das aspirações dos grupos e sujeitos sociais que as empreenderam. Elas permanecem como um substrato de memória nos lugares de sua gênese, sempre passíveis de brotar e renascer nas novas conjunturas da vida social. Locais, espaços, eventos, comemorações e sofrimentos tornam-se lugares de memória que alimentam o presente e a perspectiva de suas lutas.
O Decreto n. 5.154/2004, que revoga o Decreto n. 2.208/97 e recupera a força da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei n. 9.394/97), permite às instituições de ensino técnico de nível médio a volta ao ensino médio integrado à educação profissional. Com isso, refaz-se um caminho reiterado na educação brasileira, uma memória negada mas não apagada, uma história que reiterou a vitória da forças conservadoras sobre a luta pela emancipação de toda a sociedade. É a disputa sobre o tipo de educação que se deve dar à população, um ensino de qualidade com os elementos científico-tecnológicos e histórico-sociais exigidos pela vida social, ou o adestramento e o preparo simples para as atividades funcionais da produção.
Neste texto, o tema é desenvolvido através dos seguintes aspectos: uma visão histórica das lutas face o desafio de implementar o ensino médio integrado à formação
profissional, a historicidade do conceito de formação integrada; a articulação e a
desarticulação da educação básica e da educação profissional em alguns estudos comparados; a escola e o trabalho como lugares de memória e de identidade; e nossas considerações finais.
Do ponto de vista metodológico, é trabalhado a história como processo e a história
como método, no sentido de que a história é a produção da existência dos homens em
sociedade, e sua compreensão ao nível do discurso historiográfico se faz considerando as mediações que constituem os diferentes fenômenos da vida social (Labastida, 1983).
Complementarmente, é trabalhado com o conceito de memória lugar de memória (Pollack,
1989 e 1992; Nora, 1984). Quanto à comparação, em oposição ao tratamento apenas
quantitativo de uso corrente, é resgatado a historicidade dos fenômenos dentro de suas particularidades sociais (Ciavatta, 2000).

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