sábado, 28 de março de 2009

Ratatouille


Alguns filmes pretendem explicitamente colocar em debate assuntos da vida humana como o trabalho. Outros são, aparentemente, puro entretenimento, isentos da pretensão de provocar uma reflexão filosófica e sociológica sobre qualquer tema. Contudo é possível perceber questionamentos sobre a vida e a condição humana nas várias formas de expressão artística e estética, tenham elas esta pretensão ou não. O filme de animação Ratatoillie, por exemplo, além de divertido e lúdico, suscita uma reflexão sobre a situação contemporânea do mundo do trabalho. Sobretudo do trabalho dos jovens, que enfrentam a dura contradição entre a dificuldade e a necessidade em arrumar um emprego. Na história o rato Remy, este animal que comumente causa repugnância, principalmente quando relacionado à comida, sonha em ser um grande chef. Ele admira o mais famoso chef parisiense e de maneira autodidata aprende a fazer com maestria os mais sofisticados pratos. Após um inusitado encontro com o garoto Linguini (Lou Romano), que gostaria muito de aprender, mas não sabe cozinhar, é firmada uma parceria e Remy passa a trabalhar no restaurante, escondido sob o chapéu de Linguini. Os talentos do rato Remy garantem o emprego do desajeitado Linguini. Merecem atenção as dificuldades enfrentadas na travessia dos ratos e a conseqüente busca de sobrevivência. A situação é análoga ao despejo e a migração. Em contrapartida a trajetória do rato protagonista Remy (voz de Patton Oswalt) mostra a ousadia e o ímpeto da juventude em buscar novos caminhos e tornar possível o impossível. O filme fala sobre a dedicação e persistência em buscar seus sonhos e sobre a realização pessoal. Fala sobre começar de baixo, enfrentar dificuldades e preconceitos e crescer através do próprio esforço. Além disso Ratatoullie louva a boa gastronomia. Neste caso, mais uma vez, mostrando a grandeza da simplicidade.
CONCLUSÃO: A globalização chegou à mesa. Em “Ratatouille” há evidentes sinais de que estamos vivendo esse fenômeno até mesmo na cozinha. As facilidades advindas da melhoria dos transportes e da comunicação e a velocidade com que as transações são efetuadas e a produção é acondicionada e despachada de um lado para o outro do planeta, tem permitido que alimentos de todas as partes do mundo entrem em qualquer país, sendo disponibilizados para todos os consumidores através de mercados, feiras, supermercados ou, ainda, em casas especializadas em insumos importados. Quais alimentos são típicos de nosso próprio país, o Brasil? Que produtos são provenientes da Europa, da Ásia, da África ou dos outros países americanos? Que tipos de produções culinárias são importadas? Quais são herança de nossas tradições ancestrais? Como se alimentavam nossos pais e avós? De que forma modificaram-se os hábitos alimentares nas últimas três ou quatro décadas? Há, enfim, uma série considerável de questões que podem e devem desencadear projetos, ponderações, debates, trabalhos em grupo e até tarefas escolares nas mais diversas disciplinas, das ciências a história, da língua portuguesa a geografia,...
Linguini, um dos personagens principais, é herdeiro de sangue do grande chef Gusteau. E essa informação é por ele utilizada para justificar a sua “natural habilidade e destreza” em gastronomia. É possível atribuir a genética as características que, como um todo, descrevem e definem um ser humano? Afinal, como cantava Elis Regina, somos realmente “como nossos pais” até o último fio de nossos cabelos? Você é como seus pais ou avós?
É possível fazer uma analogia entre a forma como a cozinha do filme “Ratatouille” é organizada e operada pela equipe de trabalho que nela atua e todas as outras áreas de atuação humana? Que tal traçar paralelos entre as informações que nos são dadas na animação e a forma como são operacionalizadas instituições como escolas, indústrias, mercados, hospitais, jornais,...

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